sexta-feira, julho 01, 2005

CARNAVAL DE 19


Evoé! Esta terça está supimpa! O século XX só começa agora!
Findou-se a guerra. Foi-se a espanhola. O hedonismo ressurgiu nas ruas. Serpentinas caem no chão. Confetes ficam nos cabelos. Onde antes empestava um cheiro enjoado de cal, agora só se sente o odor estonteante dos lança-perfumes e das limas-de-cheiro. Acabou o preto dos lutos, chegando as fantasias coloridas e ousadas da mocidade: arlequinas, bufões, melindrosas e mais algumas inspiradas no teatro italiano. Os jovens abandonaram as luvas (que coragem!). Não temem espirros nem beijos. Nada mais de leitinho quente nem de caldo de galinha. O bom é comer dos picantes: salame, fiambre, presunto, defumados, o que houver na venda. Instantes atrás um bêbado pândego passou berrando: “Chega de mortandade, eu quero é mortadela!”.
Fora Tanatos! Vivas a Momo!
Há pouco presenciei uma cena que enrubesceria até meu irmão mais velho. Rapazes e moças, todas de boa família, de mãos dadas, formando uma roda, estavam a cantar uma modinha bastante saliente:

Rapazes: “Na minha casa, não se racha lenha.”
Moças: “Na minha, racha; na minha, racha.”
Moças: “Na minha casa, não se pica fumo.”
Rapazes: “Na minha, pica; na minha, pica.”

Fiquei estupefato. E (confesso) apreciei deveras. Excitei-me até, ocorrendo uma polução vespertina inesperada.
Mal vejo a hora de participar do carnaval pós-tísica.

1 Comments:

At 11:09 PM, Anonymous Anônimo said...

Querido padrinho,
gostei muito deste poema.
Tem um "quê" de Manoel Bandeira , nao achas?
Saudade!
Gabi

 

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