O AUTOR
Cai o pano.
Aplausos. Muitos aplausos. Mas muitos mesmo.
— Bravo! Bravíssimo!
— Estupendo! Supimpa!
— Vivas aos atores e às atrizes!
— Viva! Viva! Viva!
— Vivas também ao diretor!
— Viva!
— Espetáculo perfeito!
— Concepção e execução!
— Nunca vira o Santa Isabel nada igual!
— Nem o São Carlos!
— Que venha o autor!
— Isso, isso! Que venha o autor!
— O autor, o autor! Queremos o autor!
— Que venha o autor! Queremos o autor!
— Ele não está demorando?
— Que coisa mais chata. Falta de modos.
— Deveras desagradável.
Os aplausos definham-se rapidamente.
Logo surge um apupo. E imediatamente outro. E mais outro também.
As vaias tornam-se ensurdecedoras.
— Mas que autor filho de prostituta!
— Um reles escriba metido à besta!
— Bastardo ignóbil!
— Biltre imbecil!
— Falta de respeito ao público!
— Esse merda tá pensando que é quem? Gil Vicente?
— Ele não merece o chão que pisa!
Uma das divas (a melhor) vai à coxia.
— Mestre, por que não vais tu ao palco as loas receber?
— Não, não, não! Eles não podem saber que eu sou o autor.
São Paulo, 17 de dezembro de 2000
9 Comments:
carissimo, q bom te ler agora aqui. beijo, xico
vim visitar e gostei do que li.
há muito tempo não lia essa palavra: biltre.
Não pela prosa, mas pelos hai-ku: nunca mais duvido do seu poder de síntese...
Rapaz, meus parabéns pelo belo trabalho. Me deu até uma certa vontade de voltar a escrever contos. Mais uma vez, parabéns.
Oi, Rodrigo, tudo bem? Passei por aqui, gostei de ver seus escritos. bjs, Jacqueline
Querido Mestre Rodrigo Ggarcia, mestre dos mestres, conhecia sua verve de dramaturgo, não a de contista e poeta. Que bom. Tua prosa tem um certo cheiro machadiano, o que é coisa rara na nossa literatura. Continue assim, que nós, seus amigos e leitores, continuaremos, na nossa hulmilde posição de leitor, a nos debruçar sobre seus contos, versos e peças.
cheiro do sempre amigo.
Anco Márcio Tenório Vieira
Saudades, querido! Adorei, virei mais vezes... Beijo grande.
- Filhá da pu-ta!
- Filhá da pu-ta!
- Filhá da pu-ta!
Frad Enno.
Seja lá quem for este Frad Enno, que verve hein?
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