segunda-feira, julho 11, 2005

O AUTOR

Cai o pano.
Aplausos. Muitos aplausos. Mas muitos mesmo.
— Bravo! Bravíssimo!
— Estupendo! Supimpa!
— Vivas aos atores e às atrizes!
— Viva! Viva! Viva!
— Vivas também ao diretor!
— Viva!
— Espetáculo perfeito!
— Concepção e execução!
— Nunca vira o Santa Isabel nada igual!
— Nem o São Carlos!
— Que venha o autor!
— Isso, isso! Que venha o autor!
— O autor, o autor! Queremos o autor!
— Que venha o autor! Queremos o autor!



— Ele não está demorando?
— Que coisa mais chata. Falta de modos.
— Deveras desagradável.
Os aplausos definham-se rapidamente.
Logo surge um apupo. E imediatamente outro. E mais outro também.
As vaias tornam-se ensurdecedoras.
— Mas que autor filho de prostituta!
— Um reles escriba metido à besta!
— Bastardo ignóbil!
— Biltre imbecil!
— Falta de respeito ao público!
— Esse merda tá pensando que é quem? Gil Vicente?
— Ele não merece o chão que pisa!



Uma das divas (a melhor) vai à coxia.
— Mestre, por que não vais tu ao palco as loas receber?
— Não, não, não! Eles não podem saber que eu sou o autor.


São Paulo, 17 de dezembro de 2000

9 Comments:

At 4:35 PM, Anonymous Anônimo said...

carissimo, q bom te ler agora aqui. beijo, xico

 
At 8:08 AM, Anonymous Anônimo said...

vim visitar e gostei do que li.
há muito tempo não lia essa palavra: biltre.

 
At 6:44 PM, Blogger Lenita Outsuka said...

Não pela prosa, mas pelos hai-ku: nunca mais duvido do seu poder de síntese...

 
At 3:50 PM, Anonymous Anônimo said...

Rapaz, meus parabéns pelo belo trabalho. Me deu até uma certa vontade de voltar a escrever contos. Mais uma vez, parabéns.

 
At 10:09 AM, Anonymous Anônimo said...

Oi, Rodrigo, tudo bem? Passei por aqui, gostei de ver seus escritos. bjs, Jacqueline

 
At 3:18 PM, Anonymous Anônimo said...

Querido Mestre Rodrigo Ggarcia, mestre dos mestres, conhecia sua verve de dramaturgo, não a de contista e poeta. Que bom. Tua prosa tem um certo cheiro machadiano, o que é coisa rara na nossa literatura. Continue assim, que nós, seus amigos e leitores, continuaremos, na nossa hulmilde posição de leitor, a nos debruçar sobre seus contos, versos e peças.
cheiro do sempre amigo.
Anco Márcio Tenório Vieira

 
At 1:29 PM, Anonymous Anônimo said...

Saudades, querido! Adorei, virei mais vezes... Beijo grande.

 
At 9:47 PM, Anonymous Anônimo said...

- Filhá da pu-ta!
- Filhá da pu-ta!
- Filhá da pu-ta!

Frad Enno.

 
At 4:06 AM, Anonymous Anônimo said...

Seja lá quem for este Frad Enno, que verve hein?

 

Postar um comentário

<< Home